Recuperação Judicial do açougue gourmet Casa de Carnes Vargas

Veja também em: https://www.folhamax.com/economia/acougue-gourmet-pede-recuperacao-judicial-com-dividas-de-r-2-milhoes/364096 e https://www.olharjuridico.com.br/noticias/exibir.asp?id=50329&noticia=em-recuperacao-judicial-por-dividas-de-r19-milhao-acougue-de-carnes-nobres-apresenta-lista-de-credores-a-justica&edicao=2

Em operação de recuperação judicial por dívidas de R$ 1,9 milhão, o açougue Casa de Carnes Vargas fez sua lista de credores e enviou à juíza da Primeira Vara Cível de Cuiabá, Anglizey Solivan de Oliveira, na última quinta-feira (24). Prazos para impugnações e objeções contra relação de credores e ao plano foram estipulados pela magistrada. Veja a lista completa ao final da matéria. 

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Segundo publicado nos autos, a casa de carnes possui mais de R$ 30 mil em dívidas trabalhistas, mais de R$ 60 mil com empresas e 1,8 milhão de reais com bancos e fornecedores. Bradesco, Caixa Econômica, Energisa, BRF e Itaú estão entre os credores do açougue.

A juíza determinou prazo de 30 dias aos credores para que manifestem eventual objeção ao plano de recuperação. No mesmo edital, foi determinado que deverá ser publicada a relação dos credores do administrador judicial devendo contar a advertência de que o Comitê, qualquer credor, devedor, seus sócios ou o Ministério Público, poderão apresentar impugnação contra a relação de credores do administrativo judicial no prazo de 10 dias.  

Na decisão que autorizou o plano de recuperação, em agosto de 2022, a juíza Anglizey Solivan de Oliveira determinou que “Com fundamento no art. 24, da LRF, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes, além do número de credores arrolados (39), fixo a remuneração da Administração Judicial em R$ 39.919,04, que corresponde a 2% do valor total dos créditos arrolados (R$ 1.995.952,70), observado o limite imposto pelo §1º, do artigo 24, da lei de regência”.

A recuperação judicial

Açougue de carnes nobres e “goumet”, a Casa de Carne Vargas começou seus trabalhos em dezembro de 2016, sendo a primeira empreitada da família Vargas no ramo varejista de carne. Os proprietários trouxeram consigo, da indústria para o atual negócio, o rigor com protocolos de higiene e segurança, sendo sempre um valor e diferencial da casa de carnes.

Percebendo que Cuiabá/MT carecia de açougues especializados em cortes especiais, viram ali uma oportunidade de empregar todo o conhecimento em seleção de gado e desossa, aliado ao networking já construído ao longo de décadas com pecuaristas, abatedouros e demais fornecedores da cadeia produtiva, para assim, responder à essa demanda.

O objetivo da família sempre fora transformar a marca “Carnes Vargas” num selo de qualidade na percepção do consumidor. Até o ano de 2018, o açougue trabalhava com novilhas da raça Nelore, muito bem selecionadas.

Mas, ao perceberem a possibilidade de entregar produtos com qualidade superior em questão de marmoreio e maciez, trabalhando com as raças britânicas, e decidiram mudar toda a estratégia de marketing.

Passaram, então, a vender exclusivamente carnes da raça Angus e novos produtos bovinos com a marca do açougue. Rapidamente, em virtude da excelência nos serviços e produtos ofertados, a casa foi se solidificando no mercado até que se tornou referencia de carne na capital, fornecendo seus produtos à renomados restaurantes da cidade.

Diante dos positivos resultados consequentes dos ótimos serviços, sempre com espírito empreendedor, os proprietários do açougue buscaram aplicar melhorias para expandir a atuação da casa Vargas.

Aumentou-se, então, o quadro de funcionários, reformas físicas foram feitas e ampliação interna na área dos vestiários fora executada. Além disso, uma nova câmara fria e novos equipamentos entraram no radar para atender a demanda crescente.

Diante disso, durante os anos de 2018 a 2019, para melhorar a estrutura da empresa, foi emprestado capital junto a instituições financeiras. Paralelo a isso, decidiu-se criar uma nova unidade, numa região distante de onde o empreendimento iniciou. Para tanto, foi alugado um imóvel no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá/MT.

As obras de reforma do imóvel se iniciaram no ano de 2019, com capital próprio e emprestado junto a terceiros. Ocorre que, em poucas semanas de obras, houve vários furtos de materiais de construção de qualidade boa e preço alto, a exemplo de portas, pias, vasos, azulejos, cabos, dentre outros, prejudicando significativamente o andamento da construção, considerando o prejuízo financeiro.

Também houve um embargo por parte do Poder Público, o que também atrasou o seu andamento no início do ano de 2020. A Casa Vargas, porém, foi atingida abruptamente com o início da pandemia da Covid-19, no primeiro trimestre do ano de 2020, entrando num momento bastante desafiador, do qual luta para se recuperar até o presente.

O lockdown atingiu diretamente o faturamento da empresa e, com a imposição do distanciamento, confraternizações, churrascos e festividades, os impactos foram maiores ainda. Após o retorno do comércio e de eventos, o mercado de carne apontou melhorias, mas insuficientes para sanar o déficit dos meses de quarentena.

Aliou-se a isso a alta constante do dólar, o preço do gado e dos insumos tiveram um aumento estarrecedor, o que é percebido diariamente por qualquer consumidor, enquanto as vendas diminuíram expressivamente.

Diante desse cenário, a Vargas se viu em apuros para dar conta de pagar tanto seus colaboradores, como fornecedores e instituições, até que começou a “sangrar” e assistiu seu capital de giro se esvair para conseguir manter as portas abertas.

A defesa da Vargas apontou na petição inicial da recuperação que as obrigações com fornecedores e insitutições financeiras já não são cumpridas rigorosamente como era há cerca de dois anos. O caixa já não consegue mais suportar os pagamentos sem que haja prejuízo.

“Fatores como a inflação de todo o setor produtivo da carne, a brusca alta dos preços de combustíveis, do frete, dos abatedouros, da prestação de serviços, da energia elétrica e demais insumos, infelizmente está colocando em xeque a operação da “Vargas””, anotou a defesa.

O açougue até promoveu renegociações com entidades de crédito e fornecedores, porém não foram suficientes para “dar uma folga” no seu caixa. “Mesmo com todo o sacrifício, a dificuldade na equalização dessas dívidas se tornou inatingível, já que as renegociações com fornecedores, revendas e instituições financeiras, se transformam em “bolas de neve”, cada vez maior, devido as altas taxas de juros, encargos, honorários, dentre outros. Sem proteção, pouco a pouco a Requerente terá que entregar o seu patrimônio para pagamento dos credores e correrá o risco de expropriações”.

Diante desse cenário, a defesa colocou que a casa “tem capacidade de sobreviver a essa crise que atravessa, uma vez que os fatores principais de sua crise não são internos, mas sim, externos: pandemia da Covid-19, inflação e alta absurda dos preços dos insumos. A atividade da Requerente é viável e rentável, porém necessita apenas de um fôlego, aliado a uma proteção judicial, para que equalize todo o seu passivo e se reorganize economicamente. Desta forma, a Requerente não vislumbra alternativa senão buscar uma chance junto ao Poder Judiciário, para reorganizar-se, por meio de um pedido de recuperação judicial, uma vez que sua operação é viável e possui plena capacidade de manter se no mercado, contribuindo com a sociedade de Mato Grosso”.

RELAÇÃO DE CREDORES TRABALHISTAS: 

Allan Jones Pacheco Guimaraes – R$3.539,57;
Anna Paola Reichert Pinheiro Alves – R$332,13;
Diorges Dirceu Oprini – R$5.199,74;
Jackson Willian de Jesus Fernandes – R$1.242,95;
José Ailton Matias Alves – R$9.400,44;
Juarez de Jesus Costa – R$5.080,98;
Junior Teixeira da Silva – R$1.233,56;
Luiz Arevalo Filho – R$520,66;
Maurilio Jackson de Souza Campos – R$ 4.655,98;
Pedro Lucas Silva da Cruz – R$1.771,10;
Roldan Jose Garcia Hernandez – R$1.154,72;
Wesley Gabriel Ferreira Fernandes – R$2.395,85; 

RELAÇÃO DE CREDORES ME/EPP: 

BP Comércio de Embalagens Eireli – R$11.057,63;
Bruno Ricardo Alves ME – R$3.000,00;
Dabrasa Ind de Alimentos Ltda – R$193,71;
Global Dist de Produtos Ltda ME – R$1.154,01;
JB de Oliveira Com Atac de Carnes Bov e Suinas – R$36.175,77;
José Ferreira dos Santos Me – R$1.225,00;
LF Ind e Com de Prod Alimenticios ME – R$316,78;
MGW Consultoria em Garantia Alimentar Ltda – R$1.000,00;
Orange Dist de Bebidas ME – R$100,59;
PL Pistori Distr de Carvão ME – R$676,00;
Prodeter MT Prod Higienização Ltda – R$434,00;
Queiroz Soluções Corporativas – R$1.211,87;
RLM Ind Com de Alimentos Ltda – R$628,09;
Rodrigo Chaves Eireli – R$470,29;
Sete Comércio e Serviços Ltda – R$4.363,19;
Três Américas Alimentos LTDA ME – R$539,64; 

RELAÇÃO DE CREDORES QUIROGRAFÁRIOS: 

Banco Bradesco Financiamentos S/A – R$36.092,65;
Caixa Econômica Federal – R$848.578,24;
Cantagallo Produtos Alimenticios Ltda – R$2.500,00; Edineia Gomes – R$5.000,00;
Energisa S/A – R$11.693,13;
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Clientes BRF (Cessão De Credito BRF S/A) – R$655,39;
Itau Unibanco S/A – R$81.859,09;
Natural Pork Alimentos S/A – R$975,32;
Norsa Refrigerantes S/A – R$6.891,29.

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